segunda-feira, 4 de junho de 2012

Navios deixam cair mais de 600 contêineres no mar a cada ano


Ambiente Brasil

Quando o mar está muito agitado ou quando empresas declaram peso menor que o real para os contêineres que estão despachando, acidentes podem acontecer e essas grandes caixas de aço, usadas para transporte em navios em todo o mundo, podem se soltar e cair no mar.
De acordo com levantamento do World Shipping Council, grupo que congrega empresas de navegação que fazem mais de 90% do transporte de carga marítima internacional, em média 675 contêineres por ano acabam no fundo do oceano. Considerando que, em 2010, esse setor deslocou 100 milhões dessas unidades, o índice de perda parece pequeno.


Mas o fato é que, a cada ano, em centenas de pontos pelo mundo, o chão dos oceanos é “presenteado” com imensas caixas metálicas, às vezes com conteúdo poluente, e o efeito disso ainda é pouco conhecido.
“Os navios de contêineres normalmente não têm guindastes ou outros dispositivos que permitiriam recuperá-los do mar. Geralmente, eles descem até o fundo. Mas em casos em que as condições permitem, tentamos recuperar”, diz Anne Kappel, vice-presidente do WSC.
Os pesquisadores americanos Andrew DeVogelaere e Jim Barry coordenam um trabalho para entender melhor qual é o efeito dos contêineres sobre o ambiente marinho. Os cientistas enviaram um submarino robotizado até um deles, perdido a 1.281 metros de profundidade no Oceano Pacífico, a oeste da costa da Califórnia.
A pesquisa ainda não foi encerrada, mas eles já verificaram que o aparecimento do bloco metálico alterou a ecologia no local. Em volta do contêiner perdido, foram encontradas espécies diferentes das que normalmente habitam as imediações, já que ali há apenas um fundo arenoso. Os pesquisadores acreditam que, além dessa alteração, o contêiner ainda pode servir de “parada” para seres vivos que estão migrando para outros pontos, oferecendo um substrato sólido para se fixarem, o que, de outra forma, não aconteceria no chão de areia.
O levantamento ainda é preliminar, mas já está claro que esse tipo de acidente tem seus efeitos sobre a vida no mar.
Poucos dados – A falta de informação sobre os oceanos é um dos principais problemas para que se possa tomar medidas para proteger esses importantes ecossistemas, aponta o oceanógrafo José Muelbert, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), que coordenou até o ano passado uma comissão para a implantação de um sistema de observação global de regiões costeiras.
Os oceanos são um dos temas a serem debatidos na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, que acontece este mês, no Rio de Janeiro.
Para Muelbert, o rascunho do documento internacional que deve resultar da conferência contém avanços singificativos nessa área. “Os estados devem reconhecer que os oceanos são críticos para os sustentos vitais da terra. É algo que não tem tido muito reconhecimento”, observa.
“Outro aspecto importante é o reconhecimento de que se precisa implementar um processo regular, ou seja, um painel internacional para verificar regularmente a saúde dos oceanos”, acrescenta.
Acidificação – O professor chama atenção ainda para a intenção de se criar um sistema de obervação da acidificação da água marinha. “Acho que é um ponto que é um pouco tímido. A acidificação é apenas um dos assuntos que mostram a agressão aos oceanos. Tinha que haver um sistema mais amplo, que incluísse, por exemplo, as chamadas ‘zonas mortas’, onde há falta de oxigênio na água”, defende.
Também a pesca é questão importante para ser discutida na Rio+20, já que em vários pontos pelo mundo as populações de determinadas espécies de peixes estão se esgotando. “Os estados devem ser instados a restaurá-las a níveis sustentáveis”, comenta Muelbert. A ONU estima que mais de 3 bilhões de pessoas dependam da biodiversidade marinha para viver.
“O importante é que exista uma conscientização da sociedade da importância dos oceanos. Eles são responsáveis pela vida e pelo clima que temos hoje. Se os alterarmos, nosso habitat terrestrre vai ser afetado e isso vai afetar as gerações futuras”, conclui Muelbert. (Fonte: Dennis Barbosa/ G1)

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