Ambiente
Brasil
Quando o mar está muito
agitado ou quando empresas declaram peso menor que o real para os contêineres
que estão despachando, acidentes podem acontecer e essas grandes caixas de aço,
usadas para transporte em navios em todo o mundo, podem se soltar e cair no
mar.
De acordo com levantamento do
World Shipping Council, grupo que congrega empresas de navegação que fazem mais
de 90% do transporte de carga marítima internacional, em média 675 contêineres
por ano acabam no fundo do oceano. Considerando que, em 2010, esse setor
deslocou 100 milhões dessas unidades, o índice de perda parece pequeno.
Mas o fato é que, a cada ano,
em centenas de pontos pelo mundo, o chão dos oceanos é “presenteado” com
imensas caixas metálicas, às vezes com conteúdo poluente, e o efeito disso
ainda é pouco conhecido.
“Os navios de contêineres
normalmente não têm guindastes ou outros dispositivos que permitiriam
recuperá-los do mar. Geralmente, eles descem até o fundo. Mas em casos em que
as condições permitem, tentamos recuperar”, diz Anne Kappel, vice-presidente do
WSC.
Os pesquisadores americanos
Andrew DeVogelaere e Jim Barry coordenam um trabalho para entender melhor qual
é o efeito dos contêineres sobre o ambiente marinho. Os cientistas enviaram um
submarino robotizado até um deles, perdido a 1.281 metros de profundidade no
Oceano Pacífico, a oeste da costa da Califórnia.
A pesquisa ainda não foi
encerrada, mas eles já verificaram que o aparecimento do bloco metálico alterou
a ecologia no local. Em volta do contêiner perdido, foram encontradas espécies
diferentes das que normalmente habitam as imediações, já que ali há apenas um
fundo arenoso. Os pesquisadores acreditam que, além dessa alteração, o
contêiner ainda pode servir de “parada” para seres vivos que estão migrando
para outros pontos, oferecendo um substrato sólido para se fixarem, o que, de
outra forma, não aconteceria no chão de areia.
O levantamento ainda é
preliminar, mas já está claro que esse tipo de acidente tem seus efeitos sobre
a vida no mar.
Poucos
dados – A falta de informação sobre os
oceanos é um dos principais problemas para que se possa tomar medidas para
proteger esses importantes ecossistemas, aponta o oceanógrafo José Muelbert, da
Universidade Federal do Rio Grande (Furg), que coordenou até o ano passado uma
comissão para a implantação de um sistema de observação global de regiões
costeiras.
Os oceanos são um dos temas a
serem debatidos na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável,
Rio+20, que acontece este mês, no Rio de Janeiro.
Para Muelbert, o rascunho do
documento internacional que deve resultar da conferência contém avanços
singificativos nessa área. “Os estados devem reconhecer que os oceanos são
críticos para os sustentos vitais da terra. É algo que não tem tido muito
reconhecimento”, observa.
“Outro aspecto importante é o
reconhecimento de que se precisa implementar um processo regular, ou seja, um
painel internacional para verificar regularmente a saúde dos oceanos”, acrescenta.
Acidificação – O professor chama atenção ainda para a intenção de se criar
um sistema de obervação da acidificação da água marinha. “Acho que é um ponto
que é um pouco tímido. A acidificação é apenas um dos assuntos que mostram a
agressão aos oceanos. Tinha que haver um sistema mais amplo, que incluísse, por
exemplo, as chamadas ‘zonas mortas’, onde há falta de oxigênio na água”,
defende.
Também a pesca é questão
importante para ser discutida na Rio+20, já que em vários pontos pelo mundo as
populações de determinadas espécies de peixes estão se esgotando. “Os estados
devem ser instados a restaurá-las a níveis sustentáveis”, comenta Muelbert. A
ONU estima que mais de 3 bilhões de pessoas dependam da biodiversidade marinha
para viver.
“O importante é que exista
uma conscientização da sociedade da importância dos oceanos. Eles são
responsáveis pela vida e pelo clima que temos hoje. Se os alterarmos, nosso
habitat terrestrre vai ser afetado e isso vai afetar as gerações futuras”,
conclui Muelbert. (Fonte: Dennis Barbosa/ G1)
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